Wednesday, June 20, 2012

Sexo... com ou sem culpa


Como já disse, uma das grandes mudanças a nível de estilo de vida, depois de um diagnóstico de HIV, dá-se a nível sexual. O HIV é um vírus sexualmente transmissível. Sempre soube disto e, no entanto, só quando se passa pela experiência é que nos apercebemos da revolução que se dá.


Depois do diagnóstico, tive uma quebra drástica e absoluta do interesse sexual. Não queria sequer pensar em sexo, em pulsões, em desejo. Eventualmente, começam a sentir-se formigueiros outra vez... Mas já não é da mesma forma. Por várias razões. Porque foi através do sexo que fui infectado. Foi daí que veio tudo isto. Depois, quando se começa a praticar sexo (e agora com todas as precauções possíveis), olhamos para cada momento de forma diferente. Não sei sequer se já sou capaz de verbalizar o que me passa pela cabeça nessas ocasiões (não que tenham sido muitas...). A noção do nosso corpo muda. Às vezes, olho-me ao espelho e pareço que vejo o vírus a circular debaixo da minha pele, na minha cara, nos meus braços, nas minhas pernas. Logo, durante o sexo, essa consciência agudiza-se. Esperma já não é "só" esperma. Agora, parece ser uma arma. Uma arma com a qual posso fazer mal a alguém. É uma noção horrível que talvez desapareça com o tempo, não sei. Mas é das coisas que mais mexe comigo.


Depois, as pulsões... Também elas são abordadas de forma diferente. Se vejo alguém atraente na rua, posso pensar (como pensaria antes) que essa pessoa é interessante, sexualmente estimulante e que gostava de me envolver com ela. Mas agora, logo a seguir a esse fluxo de ideias vem logo a pergunta "Mas será que essa pessoa iria envolver-se comigo se soubesse? Provavelmente não..." É mais que óbvio que todos estes pensamentos são uma enorme perda de tempo e de espaço mental, mas não consigo ainda defender-me deles.


E a culpa. A culpa que sinto por ter deixado isto acontecer. Por ter sido ingénuo e preguiçoso ao pensar que "isto só acontece aos outros". Por me ter posto numa situação de vulnerabilidade perante quem dorme comigo ou quem eu quero que durma comigo. A verdade da qual não posso escapar: eu, o meu comportamento provocou isto.


E fazer sexo é repetir o momento em que isto me aconteceu. Se alguém faz bungee jumping e algo corre mal e quase se tem um acidente fatal, o mais certo é que essa pessoa nunca mais repita a experiência. Não se vai repetir algo que já resultou tão mal, não é? Mas não podemos deixar de fazer sexo! Não podemos bloquear esse nosso lado, essa natureza. Somos animais sexuais, ponto.


A grande questão é: como é que se faz sexo, como é que se vive o sexo depois de uma coisa destas. 

Quando tiver respostas, digo.

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