Thursday, March 7, 2013

Tu falas alto, mas quem manda aqui sou eu


Hoje, faz 10 meses desde o diagnóstico.
Sinto-me estranho. Sinto-me quase optimista. É estranho que "quase optimista" seja estranho.
Tudo isto é estranho, nada há a fazer.

Dei a mim mesmo os 12 meses de luto. "Vais ter um ano para engolir este sapo, para te conformares, para perceberes o que isto quer dizer, para chorar, para ser amargo, para todas essas merdas. Depois, segues em frente."

Obviamente, não posso levar isto totalmente à letra. Mas, a verdade é que realmente quero cumprir com o famoso período de 12 meses de luto. E não esticar muito mais para além disso. Imagino que alguém que tenha sido diagnosticado há muito mais tempo que eu, leia estas palavras e não consiga evitar um sorriso, uma risada até, pela minha ingenuidade. Aceito isso e acredito! Sei lá o que aí vem, sei lá como vou estar daqui a um ano. Talvez daqui a um ano eu próprio me ria ao reler isto.

Mas agora faço o melhor que posso. E por muito que isto custe, por muito que ainda doa, por muito que, por vezes, ainda me choque, por difícil que seja, prefiro atirar-me à vida com todas as minhas garras. Não ser demasiado brando comigo. Usar todas aquelas verdades que se usam para consolar ("Posso fazer uma vida normal, isto não é uma sentença de morte, não muda assim tanto") e consolar-me, acreditar nelas objectivamente. Se são verdades, porquê virar-lhes as costas como se elas não chegassem? Se é verdade, vou fazer um esforço para as ter como verdade, acreditar nelas e andar na direcção oposta de um abismo, deste abismo. Um abismo que, confesso, é tentador, mas, meus amigos, eu realmente tenho mais que fazer.

Imagino-me, por vezes, a rosnar à frente do hiv. A rugir. Como quem diz "tu falas alto, mas quem manda aqui sou eu". É a minha forma de tentar fazer com a minha vida aquilo que eu quiser, assumir (retomar) algum controlo, recuperar as rédeas disto. Porque, na verdade, também se trata disso. Depois de ter sido diagnosticado, era "isto" que conduzia a minha vida. Era este medo que mostrava o caminho. E, um dia, percebi que ia ser sempre assim. A menos que eu tomasse uma atitude. E foi aí que decidi não deixar este luto arrastar-se indefinidamente. Não deixar este luto definir-me. Até porque quando um luto se estica demasiado no tempo, ele começa a moldar-nos, a mudar-nos. E assimilamos determinadas características próprias de um estado de luto. E eu não quero ser assim, não quero viver assim. Quero a alegria de antes, outra vez. Quero ainda mais, na verdade, porque agora dou um valor diferente às coisas.

Eu quero é ser feliz. Ponto.



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