Sunday, August 26, 2012

A cure for the virus and another for the soul

Há uns dias, vi o vídeo da entrevista com o Paciente de Berlim , supostamente a primeira pessoa no mundo a ser curada do HIV.

Supostamente, porque há ainda muitas dúvidas relativamente ao uso do termo "cura". A verdade é que este homem, Timothy Brown, seropositivo desde 1995, recebeu um transplante de medula óssea em 2006 e, mesmo tendo parado de tomar a medicação ARV, tem o corpo livre do vírus. Por muitos testes que façam, não conseguem encontrar qualquer resíduo de HIV. Mesmo assim, os médicos e cientistas à sua volta continuam a dizer que é possível que existam "bolsas" de vírus algures no seu corpo. Mas, mesmo assim, os testes dizem que este senhor é HIV-negativo.

Entretanto, dois homens em Boston, EUA, passaram pela mesma experiência e têm um status serológico negativo, apesar de ainda tomarem os ARV. Por esta razão, não são ainda equiparados com o caso do Paciente de Berlim.

E agora, pergunto: é suposto ficarmos esperançosos? É suposto permitirmo-nos acreditar que "em breve" poderá haver uma cura descoberta e que será depois disponibilizada?

O cinismo dos tempos em que vivemos diz-nos que não. Existe um negócio à volta da medicação ARV, um negócio de muitos e muitos bilhões de dólares. Em Portugal, felizmente, não preciso de pagar absolutamente nada de cada vez que vou à farmácia buscar os dois frasquinhos de comprimidos. Mas alguém os paga. Neste caso, o Estado. E os mais cépticos dizem que isso fará com que uma cura dificilmente venha a ser conseguida. Ou, pior ainda, partilhada com o Mundo. Sim, porque há muitas vozes que dizem que a cura já existe e está há algum tempo mantida em segredo pelas grandes indústrias farmacêuticas. O modelo capitalista em que vivemos diz-me que esta é uma versão com alguma probabilidade, ou pelo menos sentido, de ser verdade. Mas é repugnante, revoltante e simplesmente triste acreditar, por segundos que seja, numa coisa dessas. E quem diz em relação a uma cura para o HIV, diz o mesmo para uma cura para o cancro, por exemplo, da qual se diz o mesmo.

Mas não posso acreditar nisso. Não posso. Para mim, equivale a desistir, de certa forma, da ideia de que um dia vou ter a alegria de saber que descobriram uma cura, que afinal vou poder tirar isto de dentro de mim. Acreditar nesta versão equivale a uma rendição.

Hoje, com os resultados cada vez melhores e uma confiança renovada em que vou atingir os parâmetros desejados (carga viral indetectável e cd4 em níveis "normais"), continuo a ficar triste. Porque, apesar de estar a fazer tudo certinho com os meus fiéis amigos ARV e as coisas estarem de facto a melhorar, isso não quer dizer que estou a curar-me. Vou continuar a ter isto cá dentro. O aspecto "definitivo" deste diagnóstico (de que tantas vezes falei já) continua a ser uma das maiores fontes de desânimo. Eu posso deixar de fumar, de beber, de me drogar, posso comer muita frutinha, muitos vegetais, posso correr e cuidar do meu corpo. Mesmo assim, continuarei sempre a ser seropositivo. E, de cada vez que chego a esta conclusão, só consigo pensar "Foda-se.".

Por isso, correndo o óbvio risco de ser ingénuo, de ser crente, de ser burro, vou deixar-me alimentar um bocadinho que seja por histórias e casos como o do Paciente de Berlim. Porque, nesta fase, tem mesmo de ser.



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