Friday, April 18, 2014

Uma pequena nota...


Esta semana houve alguém que me deixou um comentário num post. Essa pessoa foi diagnosticada no dia em que colocou o comentário, começou a fazer uma pesquisa desenfreada na internet acerca do assunto (como me lembro desse momento...) e deu com este blog. Receber este tipo de comentários é muito gratificante. Ao mesmo tempo, dói-me imaginar a confusão e revolução que está naquela cabeça neste momento...

A verdade é que o tempo cura muita coisa e nenhum de nós está sozinho. O meu email (serounaoserpositivo@gmail.com) está disponível para quem quiser "falar". Força!

Edge


Já há muito tempo que não escrevia aqui. Desde a última vez, muito aconteceu e muito começou a mudar. Felizmente, o tal cansaço de que falava no último post começou a desaparecer há algum tempo atrás. Há uma aceitação diferente de tudo o que aconteceu nos últimos dois anos. Há pazes a serem feitas.

Houve vários factores que contribuíram para este processo, para este caminho. Comecei a sentir a necessidade, bem como a possibilidade, de mudança em mim. Precisava de dar mais passos em direcção à pessoa que sempre ambicionei ser, à vida que sempre imaginei que teria. Com o tempo, apercebemo-nos que aqueles sonhos de adolescência, os ideais, as expectativas, não acontecem por si só. A tal ideia de "the universe works with us, not for us". E, a certa altura, percebi que não só precisava de me aproximar desse ideal, de fazer um esforço para que isso acontecesse, como me sentia preparado para começar a trabalhar essas mudanças. E é nesse processo que entrei há uns meses atrás e que está a ser cumprido gradualmente.

Parte importante deste processo era libertar-me de "pesos", deixar segredos para trás, porque na verdade já não era importante mantê-los. E, por isso, decidi contar aos meus pais acerca do hiv. E foi uma sensação tão boa ou melhor do que eu antecipava. Claro que há as reacções de tristeza e de choque, são naturais. Mas há também a aceitação, a partilha. E nesta fase, sinto-me bem o suficiente para poder contar-lhes e depois tranquilizá-los de que realmente estou bem.

Os médicos e terapeutas apontam sempre para um período de luto de 12 meses, após um diagnóstico de hiv. Eu tentei cumprir esse prazo mas não consegui. Um ano não chegou para digerir tudo o que tinha acontecido. Houve uma altura em que não sabia como iria deixar esse luto para trás, como aceitar. Mas com o tempo comecei naturalmente a concentrar-me noutras áreas da minha vida e o hiv passou a ocupar uma gaveta cada vez mais pequena... Houve momentos em que pensei que nunca iria sentir isto...

Esta é uma fase auspiciosa. Estou quase a "celebrar" dois anos de diagnóstico e sinto pela primeira vez que posso e preciso realmente de celebrar. Estar grato por estar aqui, por ter passado o que passei e por ter conseguido chegar "ao outro lado", melhor, mais crescido, mais confiante e na fronteira da felicidade.