Tuesday, January 8, 2013

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Hoje pela primeira vez pensei "a minha vida é igual". Depois apercebi-me que hoje faz oito meses. Pela primeira vez em oito meses, senti que sou a mesma pessoa que era antes. Vou ali digerir esta vitória e já venho.

Friday, January 4, 2013

Há coisas para fazer


Pergunto-me várias vezes qual o propósito de ter sido infectado com hiv. Eu, que sou um gajo que acredita, não consigo evitar pensar que isto tem de ser aproveitado para algo maior, maior que eu, maior que isto. Dou voltas à cabeça, risco as ideias mais óbvias, continuo à procura. Talvez seja idiota pensar que há um objectivo nisto. Talvez seja uma gigantesca demonstração de uma megalomania à espreita, um delírio semi-messiânico.

Mas, por outro lado, irrita-me pensar que o que tenho a fazer é simplesmente tratar de mim, aceitar a doença, seguir em frente. Não que haja algo de errado com isso, não que isso seja propriamente fácil. Aliás, é a tarefa mais difícil que já enfrentei, na verdade. Mas parece-me redutor não tentar usar isto para melhorar a vida de alguém, a visão de alguém...

Conversava no outro dia com alguém que falava em "carregar bandeiras". Essa ideia irrita-me, por sí só. Não quero carregar bandeiras de nada. Aliás, a minha resposta nesse dia foi que a única bandeira que temos de carregar é a nossa bandeira individual, é por essa, principalmente, que temos de lutar. Não quero carregar o estandarte do hiv. Mas é como um amigo me disse há uns anos quando lhe perguntei se ele (homossexual) defendia activamente os direitos dos gays. Ele respondeu-me que defendia os direitos humanos...

Acho que a questão aqui é sempre mais abrangente. Não se trata de fazer uma marcha, trata-se de usar uma "tragédia" pessoal para ajudar/ melhorar algo ou alguém. Fazer alguma diferença. Isto começa a soar-me terrivelmente egoísta... mas não é esse o objectivo!
Obviamente, para ajudarmos outros, temos primeiramente de conseguir ajudar-nos a nós próprios. Só quando estamos a 100%, quando estamos/somos saudáveis, a todos os níveis, é que podemos oferecer-nos a outros e prestar qualquer tipo de ajuda real. De outra forma, vamos piorar tudo. E eu estou a trabalhar nisso. Estou a tentar passar por todas as fases de luto que este diagnóstico me tem colocado pela frente, não saltando nenhuma, para daqui a uns tempos poder dizer que estou verdadeiramente bem. Digeri, compreendi, aceitei. Há que compreender, há que aceitar, há que perdoar.

Eu hei-de estar bem. Eu hei-de conseguir perceber isto. Entretanto, let's keep moving forward.

PS. Ah! Feliz 2013...