Tuesday, December 25, 2012

Natal I


Faz quase dois meses desde a última vez que escrevi aqui. Deixei de escrever, não por falta de necessidade ou de vontade, mas porque, de repente, o discurso fluido (até então) interrompeu-se. Detesto ter de fazer seja o que for por obrigação, e escrever aqui encaixa nessa categoria. 

Queria obrigar-me a escrever porque queria continuar o blog, continuava a ter coisas para dizer, mas houve um writer's block qualquer que me travou.

Hoje, já sabia que, mais cedo ou mais tarde durante o dia, viria cá. O Natal deixa-me sempre nostálgico. Há uma série de circunstâncias um pouco incontroláveis que fazem com que as expectativas em relação a esta época disparem e quando não é uma altura tão feliz quanto antecipámos, sentimo-nos defraudados. 

Este é o primeiro Natal desde que fui diagnosticado. Sinto que a minha estabilidade emocional tem vindo a derrubar barreiras nos últimos tempos (faz hoje sete meses e dezoito dias desde o diagnóstico, but who's counting?...) mas confesso que estava um pouco apreensivo em relação a esta altura do ano. Quando passo muito tempo com a família, continuo com aquela sensação de que, a qualquer momento, a "verdade" vai saltar-me da boca, sem eu o poder evitar, e revelar-se a todos. Assustava-me imenso, cheguei a sonhar que a minha família descobria onde eu tinha os ARV's escondidos e tinha de lhes contar tudo... 

Mas, curiosamente, estava até com algum entusiasmo em relação a esta fase. Obviamente, a quadra não foi muito parecida com o que tinha pensado, pelo menos cá por casa. E o que provocou isso foram pequenas situações, pequenas tricas, pequenos comentários no ambiente em que me encontrava. E dei por mim a tentar salvar o dia. Dei por mim a tentar animar as pessoas, a tentar criar um bom ambiente, de alegria e descontracção. De repente, a ironia disto tudo caiu em mim. Eu, louco e instável, a tentar salvar o Natal!

A verdade é que as pessoas, por vezes, conseguem ir buscar forças e perspectiva a sítios desconhecidos e nas alturas mais difíceis. Não sei bem como, mas acontece. E agora, estou aqui, a desejar que isto acabe, mas feliz porque a cada momento que passa, é mais um que passou. E poderei dizer que sobrevivi ao primeiro Natal sem ter um colapso nervoso.

E agora é altura de voltar a escrever porque há coisas que continuam a ter de ser relatadas. Já estou na segunda metade daquele período de 12 meses anunciado como o período make or break após este diagnóstico. Já resolvi algumas coisas, mas continuo a ter de resolver outras. E quero partilhar isso aqui. Por várias razões, talvez isso possa ajudar outros (fico triste ao pensar em alguém a iniciar este caminho agora...). 

Preciso de purgar isto tudo. Um dia, venho aqui e relembro o que estava a sentir nesta fase, o que me passava pela cabeça, como eu imaginava o futuro e o quão diferente ele é. Quero que seja um álbum de fotografias mentais deste ano. Para que nunca me esqueça.