Friday, October 26, 2012

Alexandra

Vi o vídeo desta reportagem no site dezanove e confesso que o que vi foi melhor do que estava à espera, avaliando só pelo título do artigo.

Deixo aqui o link porque vale mesmo a pena ver a história da Alexandra. Só tenho pena de não fazer a mínima ideia de como poder escrever-lhe. Apenas para lhe agradecer.

"A inspiradora história de Alexandra - SIC"


Wednesday, October 24, 2012

A culpa


Há um turbilhão de sentimentos que me têm invadido desde o "fatídico" dia. Um que me tem assolado particularmente é a culpa.

É impossível saber com exactidão, nas minhas circunstâncias, de onde veio a minha infecção. Quando descobri, tentei falar com as pessoas com quem tinha tido um contacto sexual antes de ter assumido uma relação monogâmica, cerca de um ano antes do diagnóstico. Todas elas estavam "limpas" (cada vez detesto mais o uso desta expressão... estarei eu sujo???). O que quer dizer que a minha infecção veio de um outro contacto sexual mais "casual" ou veio da pessoa com quem entretanto entrei numa relação. Devido a timings de testes de despiste, etc, chegámos à conclusão que as probabilidades/ circunstâncias ditavam que a infecção tinha acontecido primeiro a mim e só depois ao meu namorado.

Lembro-me de estarmos os dois no hospital à espera da folhinha de papel e eu rezava (literalmente rezava). Rezava para que nada daquilo se concretizasse, para que tudo fosse apenas um gigantesco e horrível susto, para que se se confirmasse que eu estava infectado, pelo menos que o meu namorado não estivesse (pensava eu que, com alguma sorte, talvez nunca tivesse passado para ele). Acima de tudo, este último desejo: conseguia conviver com o facto de eu estar infectado, mas não com o facto de ter trazido "isto" para a vida dele.

Entretanto, confirmou-se o pior.

Hoje, pergunto-me: como é que eu vivo com este sentimento de culpa? Como é que consigo viver dia após dia, sabendo que se eu tivesse tido mais cuidado, não estaríamos nesta situação? Por outro lado, se eu e ele tivéssemos tido mais cuidado, não estaríamos também nesta situação...

A verdade é que uma infecção, quando ocorre durante uma relação sexual, acontece sempre por (ir)responsabilidade de duas pessoas. Nenhum de nós apontou uma pistola ao outro e o obrigou a ter relações desprotegidas. Estes são os factos. Na verdade, eu não "trouxe" isto para a vida dele. Os nossos comportamentos fizeram isso. Há um grande factor de responsabilidade que está envolvido em toda esta situação. Como tudo na vida, tenho eu vindo a descobrir gradualmente, tudo passa por escolhas. E há alturas em que é necessário assumir que nós é que fizemos essas escolhas, mesmo que tenham sido erradas, mesmo que tenham tido consequências catastróficas, mesmo que sintamos um arrependimento profundo em relação a elas.

Acho que tenho de aprender a fazer as pazes com as escolhas que fiz no passado. Algumas foram certas, outras foram terrivelmente erradas. Mas não posso assumir responsabilidade total pelas consequências de algumas delas. Um dia, de uma vez por todas, terei de ser capaz de me perdoar, de resolver esta culpa, este fardo que, embora normal (por um ponto de vista), não é justificado, não é justo, não é possível. Não sei se ele me perdoou, se algum dia será capaz de o fazer, ou se algum dia me culpou realmente por tudo isto. Sei que eu tenho de chegar a algum acordo comigo mesmo, tenho de ultrapassar, tenho de perdoar.

Claro que este é o meu lado objectivo e racional a falar. Mas um dia, o meu lado emocional chega lá também.